Reunião em Bali é decisiva sobre futuro da OMC e Rodada Doha
Autoridades mundiais reúnem-se a partir desta terça-feira em Bali, na Indonésia, para um encontro que pode decidir o futuro da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A entidade responsável por resolver disputas entre países e promover a liberalização comercial no mundo atravessa um teste de fogo sem precedentes.Além do futuro da OMC, também está em jogo a Rodada de Doha – negociação, emperrada há 12 anos, para liberalizar o comércio entre os 159 países-membros da instituição.
Neste ano, o brasileiro Roberto Azevêdo foi eleito diretor-geral da organização com a promessa de trabalhar para destravar as negociações.
Na abertura do encontro, Azevêdo disse que um acordo é possível, mas que deve ocorrer durante a reunião em Bali.
"Um acordo é possível. Mas é agora ou nunca. Se os ministros puderam tomar as decisões políticas para lidar com os obstáculos remanescentes, então teremos um pacote e, assim, teremos novamente um vibrante sistema multilateral de comércio", disse.
"A OMC atravessa uma longa noite e espero que em Bali possamos observar o alvorecer de um novo mundo."
Relevância
"Se não houver acordo, a organização perderá relevância. Hoje, a OMC é uma organização do século 20, criada em torno de regras que não correspondem mais à realidade", afirmou à BBC Brasil Umberto Ciello, professor de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP e Diretor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP.
Segundo o especialista em leis de comércio internacional, o sucesso das negociações em Bali garantiria a sobrevivência da própria OMC e seu futuro.Apesar disso, o próprio diretor-geral já trabalha com perspectivas de sucesso apenas parcial. À frente da OMC há três meses, Azevêdo admitia em setembro um "pacote de Bali parcial" e deixou claro que o sucesso das negociações "dependeria da vontade política dos Estados-membros".
Multilateralismo em xeque
O pacote de Bali inclui três grandes temas: redução de burocracia alfandegária, agricultura e medidas para países pobres expandirem exportações.
Um dos riscos da organização é se tornar irrelevante como plataforma de negociação comercial. Hoje há uma tendência crescente dos países de apostar em acordos bilaterais de comércio em vez de recorrer à OMC como fórum regulador.
"O problema disso é que regras são criadas, mas poucos membros da OMC estão participando do processo, o que enfraquece a organização", explicou Celli.
Um exemplo de movimento paralelo à OMC é o Acordo de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), um tratado firmado recentemente entre os Estados Unidos e países da região da Ásia-Pacífico com novas regras de comércio e investimentos. Em tese, acordos deste tipo deveriam ser feitos dentro do âmbito da OMC.
Ameaça indiana
Outro fator-chave para o desfecho de Bali é a posição da Índia nas negociações. Na semana passada, após reuniões preliminares dos países-membros em Genebra, a Índia declarou que não abriria mão dos subsídios agrícolas.
Em 2014, o país vai iniciar um programa de distribuição de alimentos a baixo custo para mais de 800 milhões de pessoas e não quer limitar os subsídios agrícola a 10% de sua produção nacional – como estipulado nas regras da OMC.
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