Fonte|: Tribuna do Norte
Em um cenário de incertezas econômicas no setor industrial brasileiro, o grupo catarinense Itagres Revestimentos Cerâmicos tenta retomar as atividades da Porcellanati - fábrica instalada em Mossoró - que desde abril do ano passado está com sua produção suspensa. Com dívidas junto a Cosern e a Potigás estimadas em mais de R$ 5 milhões, que resultaram no corte do fornecimento de energia elétrica e gás natural, e sem condições técnicas de manter seu nível de fabricação, na época, a empresa também chegou a demitir 411 funcionários. Os débitos trabalhistas, contudo, permanecem. De acordo com o presidente da Itagres, Gilmar Rabaioli, atualmente, “cerca de 150 profissionais ainda precisam ser pagos, o que, em números, representaria algo em torno de R$ 2 milhões”. Segundo Rabaioli, apenas 42 trabalhadores permanecem na prestação de serviços à empresa, principalmente, para garantir a segurança e manutenção do parque fabril.
“Estamos terminando de quitar os débitos trabalhistas, que era de R$ 6 milhões no total. Alguns estão na Justiça, mas, estamos tentando acordos. Nós paramos as atividades para podermos recompor a fábrica. Temos investimentos de R$ 120 milhões nesta empresa, além do compromisso com o Estado e a sociedade. Mas, preciso que a Potigás e a Cosern nos financie a dívida”, comentou o diretor da Itagres.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE procurou as empresas na tarde de ontem. Sobre o assunto, a Cosern afirmou que “mantém com os seus consumidores uma relação comercial regida pela Resolução Nº 414/ANEEL, não podendo divulgar fatos relacionados a esta relação, sem autorização expressa do consumidor”. No caso da Potigás, a assessoria de imprensa da instituição declarou que o diretor técnico e comercial Taismar Zanini desligou-se da Companhia nesta semana e não haveria “tempo hábil” para a checagem do processo, que precisa ser atualizado.
DívidasQuestionado pela reportagem, o presidente da Itagres reconheceu as dívidas, mas, apontou divergências de cálculos. “Com a Potigás, o pagamento era semanal, toda sexta-feira, que dava R$ 1,5 milhão por mês. Mas, não pagando, cortava. A questão é que mesmo estando parada a fábrica, nós continuamos tendo que pagar o mínimo de consumo. Já com a Cosern era mensal, cerca de R$ 700 mil. Com ela, devemos na ordem de R$ 1,7 milhão. O que queremos é reaproximar as empresas e o atual Governo”, declarou.
O titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Paulo Roberto Cordeiro, comentou a situação. “Eu desconheço o assunto por completo. O que sei foi a versão passada pelo presidente da Itagres, que é um grupo forte no país. Se eles realmente tem a intenção de voltar a produzir e negociarem as dívidas, estaremos a disposição no que for possível. O momento, para o RN, está muito bom e temos condições de atrair muitas empresas e indústrias”, afirmou Cordeiro.
Até três anos atrás, a Porcellanati era beneficiada, inclusive, por dois programas de incentivo governamentais: o Programa do Gás (Progás) e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial do RN (Proadi). Ambos, porém, foram cortados por inadimplência.
Apesar de todas as dívidas e suspensões, em pouco mais de cinco anos de funcionamento, a Porcellanati teve bons resultados comerciais. “A fabrica foi construída para produzir um milhão de metros quadrados de porcelanato. Em novembro de 2012, tivemos nosso pico de produção, com 930 mil metros e uma venda de 300 mil metros para um único consumidor. Nosso foco é o Nordeste, com profissionais potiguares e matéria-prima estadual. Te afirmo que vamos voltar a funcionar”, salientou Rabaioli.
Números
411 Funcionários chegaram a ser demitidos da fábrica de porcelanato localizada em Mossoró.
R$ 2 Milhões. É o tamanho da dívida trabalhista que a empresa ainda terá de pagar a parte dos funcionários.
R$ 120 Milhões. Foi quanto o grupo investiu na fábrica, cujo pico de produção foi atingido em novembro de 2012.
MemóriaAs atividades da Porcellanati em Mossoró começaram em dezembro de 2009. Foram investidos mais de R$ 120 milhões, sendo R$ 51 milhões da Sudene e R$ 52 milhões de outras fontes, incluindo R$ 21 milhões do Banco do Nordeste. A estimativa era produzir 1 milhão de metros quadrados de pisos em porcelanato por mês. Contudo, em dezembro de 2012 a empresa afirmou que houve atrasos nos recursos das instituições financeiras, parou a produção por três meses e deu férias coletivas a parte dos funcionários. Ao reabrir, em fevereiro de 2013, passou de 850 mil para 450 mil metros quadrados de porcelanato/mês.
Em abril de 2014, quando produzia 540 mil metros quadrados/mês, um corte no fornecimento de gás resultou em nova paralisação das atividades. “Essa interrupção pela Potigás esfriou as estruturas e arrebentou os fornos térmicos. Tivemos uma ruptura das instalações e um prejuízo relativamente grande. Na época, não tivemos mais como produzir. Passamos os 90 dias subsequentes tentando manter, mas, não foi possível”, explicou Gilmar Rabaioli.
Em matéria publicada pela TN em 16 de julho de 2014, a presidência da Potigás, em nota, chegou a declarar que a Porcellanati era a única empresa com problemas de liquidez junto a companhia. Além disso, também afirmaram que a fábrica acumulava sucessivos débitos desde outubro de 2012.
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