Fonte: Uol
Após perderem quase tudo na maior tragédia ambiental da história do país, um casal de idosos foi surpreendido ao solicitar que a indenização paga pela Samarco incluísse a máquina de lavar roupas que ficou danificada no tsunami de lama: a mineradora exigiu uma "prova" de que a idosa não conseguia "torcer a roupa" antes de autorizar a compra do eletrodoméstico.
Teófila Siqueira Pereira Romualdo, 69, a dona Cenita, e seu marido, o motorista de caminhão aposentado Francisco Marcelino Romualdo, 71, moram em uma casa de cinco cômodos no bairro do Morro Vermelho, em Barra Longa (MG).
Ele teve um AVC (acidente vascular cerebral) em 2006 e tem dificuldades para movimentar o braço esquerdo. Ela, no início da década de 2000, recebeu o diagnóstico de osteoporose.
Na madrugada de 6 de novembro, o casal estava dormindo quando começou o zum zum zum na cidade: a lama estava chegando. "Era mais de meia-noite quando a vizinha veio nos chamar para dizer que a enchente estava chegando", lembra Romualdo.
"Por volta de 4h, fui para a beira do rio do Carmo. Aí eu gritei: Cenita, isso não é água, é lama."
A lama chegou rápido e forte a Barra Longa naquela madrugada. O município de 6.200 habitantes, distante 60 quilômetros de Mariana e 172 quilômetros de Belo Horizonte, foi tomado pelo rejeito de pelotas de minério de ferro da barragem Fundão, da mineradora Samarco (uma joint venture da Vale com a empresa anglo-australiana BHP), e ficou parcialmente destruído.
Muitas residências foram tomadas pela lama. Na casa de Cenita e Romualdo, muita coisa ficou inutilizável, além da máquina de lavar.
Pedido do laudo médico
Na semana passada, de acordo com o casal, uma assistente social da Samarco visitou a casa no programa chamado pela mineradora de "Escuta Social" para apurar a situação das famílias vítimas da lama no município.
Foi aí que surgiu a exigência de um laudo médico para atestar que a idosa não tem condições físicas e de saúde para "torcer" roupas.
"A assistente social queria um laudo médico para provar que a Cenita não tem condições de torcer roupa", afirmou. "Perdi minha plaina, minha máquina de serrar tábuas. Uma mesa ficou tombada na lama e apodreceu", afirmou o motorista aposentado.
"Consegui salvar no quintal os patos, as galinhas e o cachorro. Mas a máquina [de lavar roupas] ficou toda danificada", afirma Romualdo.
"Só depois que o pessoal do MAB [Movimento dos Atingidos por Barragens] reclamou, é que eles [a Samarco] vieram aqui. Ontem [quinta-feira], o menino da Samarco chegou aqui com uma máquina de oito quilos, mas minha mulher não aceitou. A nossa é de 15 quilos", disse.
De acordo com o membro da coordenação da seção mineira do MAB Thiago Alves, há diversos casos como o do casal, com dificuldades para provarem prejuízos materiais com o desastre.
"A exigência desse laudo médico foi ridícula, mas as perdas do que foi levado pela lama foram muito grandes e as pessoas não têm como comprovar algumas coisas", afirmou Alves.
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