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quinta-feira, 27 de março de 2014

Condenado à morte há mais tempo no mundo é libertado no Japão

Iwao Hakamada, que ficou 46 anos no corredor da morte no Japão (Foto: AP Photo/Kyodo News, File)

Depois de passar 46 anos no corredor da morte, o japonês Iwao Hakamada, de 78 anos, foi libertado nesta quinta-feira (27). A soltura ocorreu após um tribunal decidir revisar seu caso ao levar em conta novas provas sobre o assassinato múltiplo pelo qual foi condenado em 1968.
Hakamada, o homem que mais tempo passou no corredor da morte no mundo, deixou a prisão em Tóquio sem esboçar nenhuma reação. Foi recebido por sua irmã e esperado por vários meios de comunicação. O ex-boxeador, que sofre de uma doença mental, foi acusado de apunhalar até a morte o dono de uma pequena fábrica de missô (pasta tradicional da culinária japonesa usada principalmente em uma sopa chamada missoshiru) onde trabalhava, a mulher dele e seus dois filhos, e depois incendiar a casa da família. O crime ocorreu em junho de 1966.
O Tribunal do distrito de Shizuoka (no centro do país) anunciou que analisará as últimas provas de DNA apresentadas pela defesa, que podem provar a inocência de Hakamada. Ao decidir revisar o caso, o juiz responsável disse ser "injusto" mantê-lo na prisão, ao afirmar que "a possibilidade de sua inocência alcançou um grau considerável".
A emissora pública "NHK", que retransmitiu a saída da prisão ao vivo, revelou que o condenado não recebe visitas há quase quatro anos por causa de seu delicado estado mental. Segundo um de seus advogados, quando ele foi avisado de que seria libertado "pareceu entender, mas não expressou nenhuma alegria com a notícia".
Durante o julgamento e em todos os anos de prisão, Hakamada sempre se declarou inocente do crime e várias organizações de direitos humanos denunciaram que a investigação sofreu todo tipo de irregularidade. O ex-boxeador disse ter sido coagido pela polícia a assinar uma confissão.
A Suprema Corte do Japão confirmou a sentença de morte em 1980, mesmo ano em que ele entrou com um pedido de um novo julgamento. Já o último recurso, feito por seus parentes, se baseia nos resultados de exames de DNA, que mostram que as amostras de sangue recolhidas das roupas do assassino não correspondiam ao de Hakamada.
O presidente do tribunal, Hiroaki Murayama, aceitou o argumento e afirmou que as mostras de roupa "não eram do acusado", abrindo assim a possibilidade de realmente ter havido manipulação das provas. É a sexta vez que um tribunal japonês decide reabrir o caso de um condenado à morte desde 1949, e, dos outros cinco acusados, quatro foram absolvidos.
Outro caso
No início de março, Glenn Ford, que ficou quase 30 anos à espera de ser eletrocutado, ganhou a liberdade na Louisiana, nos Estados Unidos. Apesar de sempre declarar inocência, o americano de 64 anos foi condenado à morte por roubar e assassinar o joalheiro Isadore Rozeman, que tinha 56 anos na época e para quem Ford trabalhava ocasionalmente. O crime aconteceu em novembro de 1983. Um ano depois veio a condenação e a prisão. 
O tribunal da Louisiana absolveu Ford depois de receber novas informações que confirmaram que o réu não estava no local do assassinato. Ao deixar a prisão de segurança máxima, já à noite, Ford lamentou ter perdido três décadas de sua vida pagando por um crime que não cometeu. "Eu não posso voltar atrás e fazer qualquer coisa que eu deveria ter feito quando eu tinha 35, 38 ou 40 anos, coisas assim". E continuou: "Minha mente está indo para todas as direções, mas me sinto bem. Estou bem".
Execuções aumentaram em 2013
Execuções de presos no corredor da morte aumentaram em 2013, de acordo com relatório da Anistia Internacional divulgado nesta quinta-feira (27). A ONG contabiliza ao menos 778 pessoas executadas, um aumento de 15% em relação ao ano anterior.
Esse número não inclui as milhares de pessoas executadas na China (país que matou mais presos no ano passado), onde a pena de morte é tida como segredo de Estado e qualquer estimativa seria baixa.
Depois da China, o Irã é o país que mais condenados matou em 2013, pelo menos 369 – 18% mais que em 2012 –, seguido do Iraque, onde foram documentadas pelo menos 169 execuções, um aumento de 30% em relação ao ano anterior.
A lista continua com Arábia Saudita (79 execuções), Estados Unidos (39), Somália (pelo menos 34), Sudão (pelo menos 21), Iêmen (mais de 13), Japão (8) e Vietnã (com um mínimo de 7).
De acordo com a diretora de assuntos globais da Anistia, Audrey Gaughan, atualmente há 22 países que ainda aplicam ativamente a pena de morte, contra 25 em 2004, o que reflete "uma tendência positiva rumo à abolição".
No final do ano passado havia no mundo pelo menos 23.392 condenados à morte. Os métodos empregados em 2013 para matar os réus foram a decapitação, eletrocussão, fuzilamento, forca e a injeção letal.
IK
 
Hideko Hakamada, irmã de Iwao Hakamada, que ficou 46 anos no corredor da morte no Japão (Foto: AP Photo/Kyodo News)

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