Fátima Meira/Estadão Conteúdo
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, indica que a decisão já era esperada pelo mercado e o que estava em jogo era o tom que seria adotado pelo comitê. “A gente vê certas curvaturas mais conservadoras e cautelosas. O Copom colocou explicitamente e no plural a manutenção do ritmo no corte de juros nas próximas duas reuniões. Portanto, devemos encerrar o ano em 11,75%. Isso esvazia bem a chance de um eventual corte de 0,75 p.p. em dezembro”, afirma. Para o especialista, o comunicado teve um tom cauteloso e conservador para que o mercado não antecipe uma eventual aceleração. Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, também observa que o tom do comunicado foi na linha dovish (menos agressiva) por entender que o ciclo de afrouxamento monetário seguirá no mesmo passo ao longo das próximas reuniões. “O comunicado do Copom veio muito em linha com as expectativas do mercado e houve um componente interessante de unanimidade tanto na decisão por reduzir como de possivelmente manter o passo para as próximas reuniões. O mercado já havia precificado 99% de chance de corte de 0,50%, o que pode trazer ainda mais convicção para a precificação dos juros é o fato de agora a decisão ser unanime entre os membros do comitê”, esclarece.
Jayme Carvalho, economista-chefe da SuperRico, pontua que existem algumas preocupações do Banco Central, principalmente com aumento do combustível, do petróleo, globalmente, o que não estava no cenário anterior. “Há também mais elevação das taxas de juros internacionais, que subiram muito desde o último Copom, e uma maior desaceleração da economia chinesa. Tudo isso pode trazer um dólar mais forte, ou seja, um aumento da taxa de câmbio americana em relação às outras moedas, particularmente em relação ao real, o que pode ser um processo um pouco mais inflacionário. Por outro lado, o Banco Central reconheceu que os bancos centrais globais devem manter a taxa é mais alta por um período. BC foi enfático em relação à expectativa de que as projeções fiscais serão cumpridas, leia-se déficit zero em 2024. E também fez um esforço gigantesco para avisar o mercado de que as próximas quedas serão de 0,5%. É quase um recado para o mercado não precificar o 0,75 p. p.”, considera.
Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, pontua que como a decisão em linha com o consenso, a tendência é que não haja muita alteração no câmbio no curto prazo. “Mas talvez o tom mais duro por parte do FED possa pesar um pouco em nossa moeda”, complementou. Nicola Tingas, economista chefe da Acrefi, analisa que a mensagem do Copom é de que o ciclo total do corte da taxa ainda é imprevisível. “Entendemos ser necessário manter a queda da Selic na medida em que a “taxa de juros real” está ainda muito elevada para uma economia que mostra sinais de que o hiato do produto (taxa de ociosidade e capacidade de crescer com menor pressão inflacionária) está possivelmente mais alto que o estimado”, considera.
Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, avaliou que a decisão do Banco Central evita prejuízos adicionais para o mercado de crédito e para a atividade econômica. “É preciso reverter o quadro negativo de concessão de crédito às empresas. Nos primeiros sete meses do ano, o crédito recuou 5%, na comparação com o mesmo período do ano passado. A redução da Selic é necessária, não compromete o processo de combate à inflação e evita mais restrições à atividade industrial”, pontuou. Na ata da reunião anterior, os membros do grupo já haviam sinalizado a possibilidade de continuar com reduções de 0,5 ponto percentual nos encontros seguintes. A última edição do Boletim Focus, que mede as expectativas do mercado, também projetava o corte de 0,5 p.p. Dados positivos na economia dos últimos dias também incentivaram a decisão.
JOVEM PAN
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