Governo Lula apresentou no final de agosto proposta que veda, a partir de 2024, a dedução do JCP da base de cálculo de IRPJ e CSLL; com isso, põe fim às vantagens do modelo.
Ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel afirmou em entrevista à CNN que a proposta do Ministério da Fazenda para acabar com os Juros sobre Capital Próprio (JCP) é um “passo para trás”.
Ele ajudou a implementar o modelo no Brasil nos anos 1990, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
Segundo o ex-secretário, os JCP incentivam investimentos e evitam “planejamento tributário abusivo” — que configuram manobras feitas por contribuintes para escapar do leão da Receita.
“Os JCP, junto a outras mudanças no IRPJ [Imposto de Renda de Pessoa Jurídica], produziram resultados arrecadatórios. A arrecadação do IRPJ, entre 1996 e 2002, teve crescimento real de 117%. A participação do IRPJ no PIB teve aumento de 50%”, explica.
“E os contribuintes gostaram, o que é inacreditável. É bom para o contribuinte e para o Fisco”.
Ele destaca ainda que, em 2022, a Comissão da União Europeia regulamentou os JCP.
“Justamente quando o mundo adota a solução brasileira, damos um passo para trás”, indica.
O governo Lula apresentou no final de agosto a proposta que veda a dedução dos JCP da base de cálculo de IRPJ e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Com isso, põe fim às vantagens do modelo.
Os JCP
Uma reforma tributária feita pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1996, implementou o modelo de remuneração de investimentos atual, com a possibilidade de empresas pagarem sócios e acionistas por meio de JCP ou dividendos.
Com pagamento de dividendos, não há imposto algum. Já com JCP, o investidor paga 15% em Imposto de Renda (IR).
As empresas gostam de remunerar com JCP para deduzir impostos: como os juros são considerados um tipo de despesa, pagá-los reduz o lucro final e, com isso, também o IR a ser pago.
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, empresas usam essa característica para “transformar artificialmente” lucros em JCP, e assim pagar menos impostos.
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