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sábado, 27 de janeiro de 2024

“Investimentos podem até dobrar se a indústria de hidrogênio crescer no Brasil”, diz presidente a Abeeolica


 Foto: Flávia Valsani

Em 2023, o Brasil produziu quase quase 5 GW de energia eólica, o que contribui para a ampliação da matriz elétrica do país. Para tanto, recebeu R$ 33,7 bilhões em investimentos gerando 51.545 postos de trabalho e evitando 138.448 toneladas de carbono por mês. Esses investimentos, entretanto, poderiam dobrar com o desenvolvimento da indústria de hidrogênio, segundo a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Elbia Gannoum. Neste sentido, sendo o Rio Grande do Norte líder na produção eólica do país e se preparando para entrar no mercado do Hidrogênio Verde (H2V), que demanda de muita energia de fontes renováveis, ela destaca que o estado tem e continuará tendo um papel relevante neste cenário, junto com outros estados nordestinos, visto o potencial da região. Além disso, Elbia avalia como positivas o posicionamento político do país nos fóruns internacionais de modo a estimular investimentos em fontes renováveis e diz que as linhas de transmissão já não são mais um gargalo para o mercado.

Qual a avaliação que se faz do ano de 2023 para o setor eólico no Brasil?
O ano de 2023 foi um ano espetacular para a energia eólica, como tem sido os últimos anos, porque em termos de instalação de parques, esse é um aspecto relevante. A gente consegue medir o setor quando a gente olha para o quanto de energia eólica nós instalamos. E nós batemos recorde. Foram 4.9 gigawatts, que representa o quanto de capacidade instalada de energia eólica foi colocada no Brasil no ano passado. Este número é superior ao ano anterior. E o Brasil, ano passado, também bateu recorde de instalação total, superando 10 gigawatts e, somando outras fontes renováveis também. Mas é claro que a gente mede a indústria em outros fatores também.

Quais outros fatores?
Então, foi um ano também muito bom na discussão do cenário global, do país, da transição energética, da potencialidade do Brasil se tornar um grande player global, porque o Brasil, falando de questões políticas mesmo, a gente teve um ano de governo novo. E este governo novo está tendo cuidado, e é necessário fazer isso, de colocar o Brasil no cenário global de atratividade de investimento, porque o país tem um grande potencial de atrair investimento em energias renováveis. O Brasil tem a possibilidade de crescer, de fazer a sua economia crescer a partir da energia, de fazer uma política industrial verde. Então, todo esse cenário foi colocado claramente no ano de 2023 e isso nos traz também boas perspectivas para os próximos anos, mostrando que a política brasileira tem interesse em colocar as energias renováveis, não só a eólica, mas as energias renováveis, de forma geral, do Brasil ser um player relevante nesse processo. Então, nessa perspectiva, também foi um ano muito bom.

Neste contexto, o que se espera para os próximos anos?
A gente tem que se preparar para esse ano e para os próximos anos. E acho que 2023 foi um ano realmente de retomada do debate, do discurso, agora é um ano para a implementação, pensando em País. Pensando em fonte eólica, tem um outro indicador importante que é ‘números de investimentos’, R$ 33,7 bilhões. E aí a gente tem os dados de investimentos. E aí a gente precisa pensar também que no ano, a energia eólica foi fundamental para a geração de energia elétrica. O quanto de energia elétrica chegou na casa dos consumidores brasileiros. A participação da geração também foi uma muito grande, porque a cada ano a energia eólica exerce um papel mais importante na geração de energia. Hoje ela é a segunda fonte de geração de energia do País, e ela também foi fundamental para atender o consumidor brasileiro.

Como o Rio Grande do Norte se posiciona neste cenário?
Olhando especificamente para o estado do Rio Grande do Norte, é um estado líder em produção de energia eólica. Ele está ali com a Bahia que, recentemente, tinha ultrapassado a capacidade instalada, mas é coisa pouca. A diferença é muito pequena. Mas o Rio Grande do Norte é um líder na produção e também na construção de energia eólica. Tem um papel muito relevante e vai continuar tendo, porque a expansão da energia renovável eólica está com seu montante maior no Nordeste brasileiro mesmo e os principais atores são os estados do Rio Grande do Norte, o estado da Bahia, também o estado do Piauí. São relevantes na produção de energia eólica.

Qual o papel dos governos em termos de incentivos para o setor? Tem sido satisfatório?
Existe uma falsa concepção, e de todo mundo, de que é o governo que tem que dar incentivo. Não! A indústria de energia não só eólica, mas a indústria de energia, de forma geral, é uma indústria que tem um forte investimento privado. Então, o papel do Estado na economia da energia é um papel muito mais de regulador e de sinalizador de estabilidade, de que o Brasil é um país confiável, que o Brasil vai atrair investimentos e que os investidores podem confiar no país e que a economia tem modelos de investimento. E no caso da indústria de energia no Brasil, não só de eólica, esse sinal é muito claro. A gente tem um modelo de setor bastante estável que atrai investimentos. O que estava faltando era o governo brasileiro – e aí o próprio presidente da República – se posicionar lá fora, na discussão do clima e falar que tem mesmo aquecimento global, que aquecimento global é uma discussão relevante. O Brasil está preocupado com o processo e inclusive pode prover soluções, porque isso estava faltando no governo federal. Mas esse negócio de incentivo, subsídio, isso não faz sentido.

O que falta ao setor para crescer ainda mais?
O mercado brasileiro hoje é muito aberto e o crescimento dele se faz principalmente na contratação do mercado livre. O que falta hoje são desenhos regulatórios para novas tecnologias, como é a tecnologia do hidrogênio, eólicas offshore… e isso está no poder legislativo, no Congresso Nacional. Não há uma discussão de subsídios ou de incentivos, coisas vindo direto do governo.

Falando em hidrogênio. Quais são as oportunidades para a eólica offshore no mercado de hidrogênio verde?
É a oportunidade para a indústria de energia renovável do Brasil. A offshore está sendo desenvolvida, está sendo feito o modelo de mercado e a lei para offshore, porque ela vai ser uma importante fonte de geração de energia renovável no país. Agora, ela vai atender às necessidades de energia renovável. E entre essas necessidades está o hidrogênio. O hidrogênio verde, sim, ele é fundamental para o Brasil e traz oportunidades para as fontes renováveis, porque ele vai aumentar a demanda por energia renovável. E o Brasil, ele tem excesso de oferta de energia, ele tem muitos projetos, ele tem muito recurso natural renovável para a geração de energia. Então, quanto mais mercado para nós, melhor. Esse número de investimentos do ano de 2023 pode até dobrar, se a indústria de hidrogênio crescer e se desenvolver no Brasil. Isso é muito vantajoso e é claro que tanto para eólica onshore, quanto para eólica offshore e também para outras fontes de geração, como é a solar.

Ainda há dificuldade na questão da transmissão de energia produzida no País? Pode-se considerar um gargalo?
A transmissão já, há muito tempo, deixou de ser gargalo. O desenho foi resolvido. O que a gente percebe ainda é que com no ano passado houve uma corrida muito grande por projetos e hoje o mercado se desenvolve mais fortemente no mercado livre, há sempre uma demanda por projeto, por linha de transmissão, muito superior ao que a linha de transmissão pode oferecer. Mas o governo, ele tem feito um planejamento e tem realizado os leilões com frequência no sentido de atender. Eu não diria que transmissão é gargalo. Transmissão é sempre um ponto de atenção para a indústria, porque a transmissão é, por definição, um ativo mais escasso do que a geração. E não adianta, vai ser sempre assim. Vai ter muito mais gente querendo fazer projeto do que o mercado pode contratar. E a transmissão só será feita para atender aquilo que o mercado efetivamente necessita. Ninguém vai fazer linha de transmissão para deixar essa linha de transmissão sem funcionamento. Então, vem essa ideia de que há alguma escassez, mas isso não é necessariamente verdadeiro numa visão de médio longo prazo. E os leilões, nós tivemos um leilão bem no final do ano, eles estão sendo feitos justamente para atender essas necessidades.

QUEM
Presidente Executiva da ABEEOLICA (Associaçao Brasileira de Energia Eolica) desde 2011, é doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial. É especialista em Regulação e Mercados de Energia Elétrica, tendo atuado nessa área desde 1998.

TRIBUNA DO NORTE 



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