(Foto: Divulgação/kcnawatch.org)
Em artigo para o site 38 North, que publica informações e análises sobre a Coreia do Norte, Robert L. Carlin e Siegfried S. Hecker disseram que a atual tensão entre as duas Coreias é a maior desde junho de 1950, quando teve início a guerra que consolidou a divisão do país em Norte e Sul. Afirmaram, anda, que um ataque nuclear está nos planos do líder norte-coreano.
“Isto pode parecer dramático demais, mas acreditamos que, tal como seu avô em 1950, Kim Jong-un tomou uma decisão estratégica de ir à guerra”, dizem os analistas no texto. “Não sabemos quando ou como Kim planeja puxar o gatilho, mas o perigo já vai muito além dos avisos de rotina em Washington, Seul e Tóquio sobre as ‘provocações’ de Pyongyang.”
Diante da posição aparentemente alarmista da dupla, a rede BBC ouviu outros especialistas e obteve um ponto de vista distinto. Christopher Green, do think tank holandês Crisis Group, foi um que contestou a ideia de que o conflito nuclear é iminente. Segundo ele, por maiores que fossem as baixas na Coreia do Sul, a devastação seria bem maior no Norte, pois decretaria o fim do regime comunista.
Peter Ward, pesquisador sênior da Universidade Kookmin, em Seul, admite que a decisão de mudar o texto constitucional é relevante. “Isto é um grande negócio. Altera fundamentalmente um dos principais preceitos ideológicos do regime”, afirmou.
No entanto, Ward concorda com Green ao afirmar que Pyongyang não arriscaria um desfecho tão trágico. “Uma guerra geral poderia matar muitas pessoas no Sul, mas seria o fim de Kim Jong-un e seu regime”, avaliou.
A posição comedida de ambos, porém, foi antecipada por Carlin e Hecker no artigo. “Se é isso que os tomadores de decisões políticas pensam, é resultado de uma leitura fundamentalmente errada da visão de Kim sobre a história e de uma grave falta de imaginação que pode conduzir (tanto por parte de Kim quanto de Washington) a um desastre.”
Embora discordem da ideia extrema de um ataque nuclear, os analistas ouvidos pela BBC enxergam a possibilidade de uma ação militar reduzida por parte do Norte, que nos últimos meses intensificou os testes com mísseis balísticos e inclusive forneceu alguns desses armamentos à Rússia, permitindo assim que fossem testados em situação real de conflito na Ucrânia.
“Estou muito mais preocupado, em geral, com um ataque limitado à Coreia do Sul”, disse Ankit Panda, analista do think tank norte-americano Carnegie Endowment for International Peace. “Um ataque desse tipo teria como alvo o território ou as forças militares sul-coreanas, mas teria um alcance limitado.”
Nisso, porém, Panda acaba direcionando suas ideias para mais próximo do que diz o artigo do 38 North. Segundo ele, o tal “ataque limitado” levaria uma retaliação militar sul-coreana, o que por sua vez teria o potencial de gerar um conflito de maiores proporções.
Seong-Hyon Lee, da Fundação George HW Bush para as relações EUA-China, é mais cauteloso. Na visão dele, a beligerância norte-coreana tem apenas o objetivo de colocar o Ocidente em alerta e forçar os EUA e seus aliados a aceitarem negociar com Pyongyang.
“Olhando para a história da Coreia do Norte, vemos que muitas vezes recorreu à provocação para atrair a atenção de outros países quando quer negociar”, disse ele. “Isto representa uma boa oportunidade para Kim Jong-un provocar.”
Mais uma vez, entretanto, o artigo assinado por Carlin e Hecker antecipa tal análise e diz que o Norte já descartou a hipótese diplomática, restando apenas a opção nuclear. “Se, como suspeitamos, Kim se convenceu de que, após décadas de tentativas, não há forma de envolver os Estados Unidos, suas recentes palavras e ações apontam para as perspectivas de uma solução militar utilizando esse arsenal.”
Os dois analistas, então, projetam um desfecho catastrófico. “Se isso acontecer, mesmo uma eventual vitória dos EUA-Coreia do Sul na guerra que se seguirá será vazia. Os destroços, ilimitados e vazios, se estenderão até onde a vista alcança.”
A REFERÊNCIA
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