TJ promove semana de adoção

Fonte: Novo Jornal

Atualmente no Rio Grande do Norte há 37 crianças e adolescentes prontos para adoção, e 244 famílias aptas a adotá-las. O problema é que as famílias buscam por um perfil no qual esses órfãos não se enquadram.   Segundo o juiz José Dantas Paiva, da 1ª Vara da Infância e da Juventude, a procura maior é por crianças do sexo feminino, recém-nascidas, de cor branca e que não tenham irmãos na mesma situação de risco. Com a intenção de mudar essa realidade e aproximar as pessoas do tema, o Judiciário do RN promove até a próxima segunda-feira a I Semana Estadual de Adoção.   José Dantas explica que o evento, que começou ontem, terá várias palestras e debates sobre o assunto, além de também promover momentos de lazer às crianças acolhidas e troca de experiências com pais adotivos que têm histórias positivas junto aos filhos. O magistrado conta que sempre no mês de maio a Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude promove eventos nesse sentido. “Especialmente trazendo a sociedade para o debate”, acrescenta.    Este ano, segundo o juiz, foi percebido que é necessário se fazer uma movimentação mais aprofundada e detalhada. Por isso ficou decidido que os trabalhos ocorreriam durante uma semana. “Em 2009 houve uma mudança na lei trazendo novos conceitos para a área e criando outros, e aí decidimos fazer uma semana discutindo o tema porque muitos assuntos ainda são tabus para a sociedade”, disse.   De acordo com José Dantas, esses tabus dizem respeito ao padrão de filhos comumente estabelecido pelos pretendentes a adoção. O magistrado afirma que crianças negras, com mais de cinco anos de idade, que tenham irmãos ou sejam portadoras de deficiência, física ou mental, não têm a preferência das famílias adotivas. “As 37 que hoje aguardam por um lar têm mais de 7 anos de idade, ou são adolescentes e alguns deles têm deficiência”, conta o magistrado.    Além destas, há ainda outras 93 que não podem ainda ser adotadas. Elas aguardam por tramitações junto à Justiça para a retirada da guarda dos pais biológicos, por motivos de agressão ou negligência, ou estão em processo de retorno da família. Há ainda um percentual de 10% a 15% de crianças, segundo informou José Dantas, do total de acolhidas que têm mais de dez anos de idade e permanecem nas oito instituições de acolhimento do RN porque não serão mais adotadas, e permanecerão nesses abrigos até os 18 anos de idade.   Durante as palestras que vão acontecer até a segunda-feira, a I Semana Estadual de Adoção vai tentar aprofundar o debate sobre essa rejeição e procurar sensibilizar essas pessoas quanto à necessidade que as crianças e adolescentes órfãos têm de possuir uma família. No que diz respeito a esses pretendentes a pais, José Dantas diz que, em sua maioria, eles são compostos por casais que não conseguem ter filhos. “Aproximadamente 70%”, acrescenta. O restante é de viúvos, solteiros e divorciados.   Ainda de acordo com o magistrado, a maioria desses casais ganha até cinco salários mínimos. Segundo Dantas, as famílias de classe média alta e de classe alta adotam menos. Sob a ótica do juiz, isso acontece porque essas famílias têm mais acesso a tecnologia e podem buscar outras formas para tentar a gestação. “E também porque a maior parte não tem pretensão de criar muitos filhos”.   Todas as palestras e debates da Semana de Adoção vão acontecer na Escola de Magistraturas do Rio Grande do Norte. José Dantas Paiva adianta que, em um momento do evento, também será reservado tempo para orientação de profissionais de escolas e da área de saúde. Isso porque, explica o juiz, muitas vezes o primeiro contato que mães que têm a intenção de doar os filhos o é nos ambientes de atuação desses profissionais. “E acaba que um enfermeiro ou um técnico tem alguém que conhece que deseja adotar uma criança e indica para esta mãe”.    O problema, segundo Dantas, é que, desta forma, é pulada uma etapa. Uma pessoa que está cadastrada na Justiça e passou por todos os cursos necessários para conseguir o direito de tentar uma adoção acaba perdendo a vez e não há garantia de que a família que abrigará o bebê tem condições de fazê-lo.   A programação de hoje da I Semana Estadual de Adoção começa às 10h, com exposição fotográfica no shopping Midway Mall. No decorrer do dia haverá palestras e debates sobre que duram até as 21h45, sempre na Esmarn.