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segunda-feira, 29 de junho de 2015

“A inadimplência é nossa maior dificuldade”


Luiz Antonio Ciarlini - Presidente da Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN)

Fonte: Tribuna do Norte 

Em 2014, a antiga direção da Cosern descartou a possibilidade de desabastecimento energético ou racionamento. Esta afirmativa permanece? 
As distribuidoras não participam, mais diretamente, destas discussões em relação a níveis de barragem, em função da fatia do setor onde elas operam. Mas, neste momento, não temos nenhum indício que tenhamos um racionamento a curto e médio prazo. 
Ano passado, em maio, a Cosern previa um investimento de R$ 220 milhões – o maior dos últimos cinco anos. Isto se configurou? 
Fechou em R$ 201 milhões, o maior dos últimos cinco anos, e a previsão para 2015 é manter os mesmos níveis do ano passado. Vamos fazer tudo aquilo que está em nosso planejamento para este período, independentemente das dificuldades de receita e inadimplência. 

Estes investimentos refletem em que? 
Em melhorias no sistema elétrico, principalmente. Então, temos investimentos distribuídos por todas as regiões do Estado. Para isso, nós estudamos as necessidades de cada uma das áreas. 

Esses estudos são descentralizados? 
Esse trabalho é feito na Cosern, que coleta informações de todas as regionais, e uma área especializada dentro da empresa é quem executa este levantamento. Nós crescemos algo em torno de 6% ao ano, em média, nos últimos 5 anos. É um crescimento importante. São aproximadamente cinco mil ligações de novos clientes. Além do crescimento natural do consumo, do cliente existente, existe também uma ampliação, que se dá nessa ordem de 5 mil clientes por mês. O Rio Grande do Norte tem um dado muito interessante: possui o maior consumo, por unidade consumidora, do Nordeste. São 147 quilowatts/hora por mês. 

Isso pode ser reduzido ou aumentado? Existe uma variação?
Existe naturalmente uma tendência de crescimento quando você olha o mercado da empresa como um todo. Esse fato da media de consumo individual ser alta, é interessante porque o Rio Grande do Norte não é o Estado de maior economia do Nordeste. A nossa avaliação é de que isso de alguma forma mostra um equilíbrio social maior, permitindo que clientes, em teoria, de menor poder aquisitivo tenham condição de assumir uma conta num patamar um pouco mais elevado do que em outros Estados do Nordeste.

Comparando, a tendência é que até o final do ano isto aumente? 
O mercado este ano está indicando um crescimento menor que a média dos últimos anos. O que historicamente nos últimos cinco anos vem próximo de 6% neste ano será próximo de 3%, certamente representando toda essa conjuntura econômica do país.

Como está a relação consumo x receita?
Com estes desafios todos que têm ocorrido no setor elétrico, por conta de todas as dificuldades geradas por falta de água e alguns ajustes que foram feitos na regulamentação do setor, várias camadas do setor elétrico tem enfrentado dificuldades. Mas, em especial, a distribuidora tem uma que é característica só dela e isso se apresenta aqui no Rio Grande do Norte e na Cosern também, que é a questão do recurso que circula no setor elétrico e tem como porta de entrada a distribuidora. Nós somos quem têm o contato com o cliente e arrecadamos a conta do que ele consumiu. Só que dentro desta conta, apenas 26% é a parcela da distribuidora. Um cliente que tem uma conta de R$ 100, quando ele paga esta fatura, R$ 26 vão cobrir toda a necessidade de despesa e investimentos que a Cosern necessita fazer e R$ 74 vão ser repassados para outras camadas do setor elétrico ou vão ser recolhidas através de impostos pelo Estado ou pela Federação.

Qual o grande desafio então? 
O grande desafio é que a inadimplência de um cliente em relação à sua conta não retira da distribuidora a responsabilidade de pagar os R$ 74. Então, quando o cliente não paga a fatura dele, a Cosern deixa de receber a parcela dela de 26%, mas, é obrigada a pagar os outros 74%, que é o ICMS, o imposto federal, é a energia que o cliente já consumiu. Em algum momento pode passar pela cabeça do consumidor a idéia de que os aumentos são benéficos para a Cosern. O aumento é ruim para a Cosern. Essa parcela da distribuidora, inclusive, já foi da ordem de 35%, há 15 anos, e hoje é de 26%. Isso significa que o que está crescendo na conta são as outras parcelas. Então, nós temos uma conta maior, um cliente mais exigente, uma necessidade de receber muito maior, e a parcela da distribuidora praticamente não teve alteração.

Na questão da inadimplência, o que já está configurado?
A inadimplência histórica do consumidor da Cosern é inferior a 1%, fica na casa de 0,6%, O que estamos vendo num curtíssimo prazo é isto subir para 2%.  Avaliamos que pode ser ainda uma situação de curto prazo e se regularize no restante do ano.

Esta seria a principal dificuldade da empresa?
Perfeito. Sem descartar também os esforços da empresa para melhorar mais a qualidade do fornecimento de energia e da qualidade de atendimento.
 
O que já está confirmado, para o segundo semestre, de ampliações?
Nesses R$ 200 milhões que vai ser o investimento da gente neste ano, temos investimentos distribuídos em todas as regiões do Estado. Na região mais próxima de Natal, vamos aplicar algo em torno de R$ 47 milhões. Os destaques seriam o início da construção da subestação Alecrim e algumas modernizações na rede. Em Mossoró e no Oeste, o investimento será na ordem de R$ 64 milhões, com uma nova subestação em Campo Grande e melhorias nas cidades que compõem a região. Em Caicó e no Seridó, temos uma parcela na ordem de R$ 24 milhões para uma nova subestação em Currais Novos e melhorias em circuitos de média tensão. E temos várias melhorias pontuais de rede no litoral, em especial as áreas com mais envolvimento turístico. 

Estas subestações são para suprir nova demanda ou para atualizar a demanda existente?
Elas tem por conceito inicial atender o crescimento do mercado. Mas em determinados momentos estes investimentos vêm para garantir uma melhor operacionalização da rede naquela região. 

Falta alguma localidade do RN ter cobertura?
Não. Atendemos 100% das unidades consumidoras no Estado. Inclusive, para este conceito de universalização do fornecimento de energia, nós participamos, durante vários anos, do programa Luz para Todos, coordenado pelo Governo Federal. Ainda estamos fazendo um pequeno trabalho neste ano e no ano que vem, com pequenas unidades, mas, ao longo do tempo fizemos em torno de 57 mil ligações nas áreas mais remotas do Estado, e hoje conseguimos atender 100%.  

O BC divulgou o relatório de inflação e nele modificou a projeção do preço da eletricidade, subindo de 38,3% para 43,4% até o final do ano. Isto vai impactar como?
Nós não temos mais nenhuma previsão nos mecanismos do setor elétrico. Toda a definição de ajustes ela é através da Aneel, então, ela é quem define todo o modelo de reajuste e revisões tarifárias e a empresa distribuidora se submete e aplica o que foi definido. Hoje, não existe previsão que tenhamos qualquer realinhamento até o final do ano. Nem para reduzir, nem para aumentar. O próximo reajuste tarifário da Cosern previsto é em abril de 2016.

E sobre essa questão das novas energias? Muitos consumidores já começam a estudar projetos para estruturar essas alternativas. De que forma a Cosern trabalha com este novo cenário? 
No Estado hoje existem 34 unidades consumidoras que se utilizam de micro ou mini geração. Isso é uma legislação específica da Aneel, que trata desse assunto, a resolução normativa 482/2012, onde define-se os critérios para a utilização de fontes alternativas, sejam eólicas, solar. Nós, da Cosern, estamos estruturados para atender a regulamentação. O que é fundamental para a distribuidora em iniciativas como essa é que a capacidade de pagamento do cliente esteja adequada ao seu consumo. 

Estes 34 casos são empresas?
Temos 20 residenciais, 8 empresas, 5 órgãos do Poder Público e uma indústria. Agora é uma avaliação muito do cliente, porque ele vai fazer um investimento que vai ser amortizado ao longo de um tempo, onde ele vai ter uma redução da conta. 

O cliente tem que procurar a Cosern ou a Aneel? 
Ele procura a empresa. Se ele for no site da Cosern hoje, ele  já tem acesso às orientações. Se ele for no site da Aneel poderá acessar também a resolução. Então, ele vê em que condições precisa trabalhar. O que o cliente vai fazer, na verdade, é estudar a potência da planta que precisa instalar, vai trazer um projeto para a Cosern analisar, fazer as partes formais e adequar essa nova operação. O que a gente imagina é que, ao longo do tempo, com a entrada de novas unidades e o barateamento dessas novas fontes, isso vai tornar essa conta mais fácil e mais equilibrada, no sentido de que fazendo este investimento, o cliente vai recuperar em um determinado tempo. Para nós, o fundamental é que a energia consumida pelo cliente seja aquela que ele tem condição de pagar. 

Como é essa ligação entre o fornecimento e a tarifa? Cada projeto desse é um modelo específico?  
Em termos de tarifa, é a tarifa regulada pela Aneel. Vamos dar um exemplo, o cliente tem uma casa e quer colocar uma micro ou mini geração. Existem algumas regras. A Aneel limita que a capacidade de geração seja do tamanho da carga que ele tem em casa. Então, não é possível montar uma geração para vender.  A legislação vem com uma lógica que o cliente produza para ele. Mas, como essas fontes são intermitentes e o consumo também, seria razoável imaginar que naqueles momentos que ele produz mais do que consome, essa energia volte para o sistema e ele seja beneficiado com isso. Mas, aí aquilo que entra e aquilo que sai possuem o mesmo valor, vai ser medido só em energia. O cliente não recebe dinheiro, ele abate em outras unidades consumidoras. A rede da distribuidora e o fornecimento sempre vão existir, a não ser que o cliente peça para ser desligado do sistema da Cosern e monte uma planta de geração própria que ele entenda que vai ser suficiente para suprir toda a necessidade dele no dia-a-dia, o que hoje ainda não é viável economicamente. 

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