O saldo de retirada líquida das contas poupanças dos brasileiros bateu recorde no mês de agosto, sendo o maior saldo desde 1995, início da série histórica. Segundo o relatório de poupança divulgado nesta terça-feira (6) pelo Banco Central (BC), os brasileiros retiraram R$ 22 bilhões a mais do que depositaram nas poupanças.
Segundo os dados o BC, os depósitos na poupança somaram R$ 316,2 bilhões, enquanto o contingente de retirada foi de R$ 338,2 bilhões. Ainda segundo o Banco Central, neste ano, no mês de maio a poupança registrou um saldo positivo de captação, ou seja, teve mais depósitos do que saques.
Com os dados de agosto, os depósitos em poupança no Brasil em 2022 somam R$ 2,36 trilhões, enquanto as retiradas foram de R$ 2,44 trilhões, resultando em uma retirada liquida de R$ 85,2 bilhões no ano.
Os resgates refletem a perda da atratividade da poupança em relação a outros investimentos disponíveis hoje em renda fixa com a taxa Selic em 13,75%, em comparação com a poupança que rende 6% mais a TR [Taxa referencial]”, destaca a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria.
A economista reforça ainda que a oferta de investimentos para o poupador no mercado hoje é competitiva, desde títulos do tesouro e títulos bancários até crédito corporativo, como debentures, CRIs e CRAs. “O mercado de capitais acumula emissões de R$ 318 bilhões este ano, a maior parte em renda fixa”.
Alan Ghani, professor do Insper e economista-chefe do SaraInvest, destaca os títulos públicos negociados no Tesouro Direto, como o Tesouro Selic. “Atualmente vemos uma popularização dos investimento do tesouro, o que também pode ser uma explicação para essa migração da poupança para os títulos públicos, ou outros investimentos em renda fixa”, aponta o economista.
Mas Vitoria avalia também que os saques podem ser, em parte, atribuídos ao uso para consumo, como complemento de renda. “A melhora recente na massa salarial, segunda dados da Pnad, tende a reduzir essa tendência”, afirma a economista.
Alan Ghani, do Insper, reforça essa avaliação. “Inflação elevada e a inadimplência alta faz muita gente aproveitar para pegar as suas reservas, boa parte delas na poupança, para quitar dívidas, complementar renda e também utilizar para o consumo.”
Habitação
Os saques também são uma preocupação para o setor imobiliário, afirma a economista-chefe do Inter, já que limitam o fundo de financiamento no setor. “O SFH [Sistema Financeiro de Habitação], que oferece taxas menores devido ao menor custo da poupança, pode ficar mais escasso e taxas de financiamento com base na Selic atual ou em IPCA + hoje estão bastante restritivas”, diz.
Por outro lado, Ghani ressalta que os financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) atingiram R$ 19,7 bilhões em agosto, contra 11,6 bilhões em junho e 3,3 bilhões em julho, o que significaria uma recuperação do mercado imobiliário e maior acesso ao crédito para o fim habitacional. “A sinalização do Banco Central sobre a desaceleração do ciclo de alta da taxa de juros contribui para essa melhora na disponibilidade no crédito imobiliário”, conclui Ghani.
CNN
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