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quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Cinco crises geopolíticas que podem dar início a novas guerras em 2024


Exército da China realiza manobra militar em agosto de 2021 (Foto: eng.chinamil.com.cn/Liu Fang)


 O ano de 2023 viu uma nova guerra ser iniciada, com o Oriente Médio em ebulição desde que a agressão do Hamas, em 7 de outubro, levou a uma resposta militar severa por parte de Israel. Enquanto isso, na Europa, o conflito entre Rússia e Ucrânia não dá sinais de arrefecimento, conforme a contraofensiva de Kiev se enfraquece e permite a recomposição russa. Para 2024, a perspectiva é negativa não apenas nesses dois conflitos. A Referência destaca outras cinco crises geopolíticas que podem dar início a novas guerras no ano que está para começar, todas elas com envolvimento direto ou indireto das maiores potências globais.

China x Taiwan

Taiwan se considera um país independente e luta para ter essa condição reconhecida globalmente, enquanto a China entende que se trata de um de seus territórios. As pretensões taiwanesas mantêm no ar a possibilidade de uma invasão ou, na melhor das hipóteses, de um bloqueio comercial marítimo que poderia arruinar a economia global.

Embora oficialmente reconheçam o princípio “Uma Só China”, segundo o qual Taiwan é território chinês, os Estados Unidos são um parceiro crucial da ilha. A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita ao território taiwanês de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, em agosto de 2022.

Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brios de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

A partir dali, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma agressão. Em outubro de 2022, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido” que o imaginado, de acordo com a rede Bloomberg. Entretanto, não forneceu qualquer informação de inteligência para embasar seus comentários.

As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele em outubro de 2022. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias.”

Na última terça-feira (26), na celebração dos 130 anos de nascimento de Mao Tsé-Tung, Xi voltou a tocar no assunto. “A reunificação completa da nossa pátria é uma tendência geral, uma causa justa e a aspiração comum do povo. A nossa pátria deve ser reunificada e certamente o será”, disse o presidente no seu discurso, segundo o jornal South China Morning Post. “Nos opomos firmemente a qualquer pessoa que use qualquer meio para separar Taiwan da China.”

O risco de um conflito levou Mike Gallagher, presidente do Comitê de China na Câmara dos EUA, a enviar uma carta à vice-secretária de Defesa Kathleen Hicks. No documento, revelado pela rede Fox News, o republicano instou Washington a fornecer a Taiwan um “arsenal de dissuasão” capaz de desencorajar uma agressão chinesa. Segundo ele, Xi “ordenou que os militares chineses estejam prontos para invadir Taiwan até 2027.”

China x Filipinas

Filipinas e China reivindicam grandes extensões do Mar da China Meridional, que é uma das regiões mais disputadas do mundo. VietnãMalásiaBrunei e Taiwan também estão inseridos na briga pelos ricos recursos naturais da hidrovia.

A China é acusada de avançar sobre a jurisdição territorial dos demais países, construindo ilhas artificiais e plataformas de vigilância, além de incentivar a saída de navios pesqueiros para além de seu território marítimo. O objetivo dessa política é aumentar de forma gradativa a soberania chinesa no Mar da China Meridional.

Embora a questão envolva diversas nações, a relação Manila x Beijing é a mais delicada. A Marinha da China passou a assediar embarcações filipinas que fazem o reabastecimento de uma base nas Ilhas Spratly, um arquipélago disputado. Em mais de uma ocasião, navios chineses e filipinos chegaram a colidir devido à hostilidade por parte de Beijing.

Uma arbitragem internacional em Haia, em 2016, invalidou as reivindicações de Beijing sobre a hidrovia, pela qual passam anualmente cerca de US$ 3 trilhões em comércio marítimo. O governo chinês, porém, não reconhece a decisão e hoje tem ao menos três ilhas artificiais totalmente militarizadas na área.

Como no caso de Taiwan, os EUA se inserem na questão geopolítica como aliados das Filipinas, com quem têm um pacto de defesa que levaria a uma reação militar em caso de agressão chinesa. Até o Japão começou a se mexer, com um pacto de defesa entre Tóquio e Manila em vias de ser implantado.

A retórica vem escalando dos dois lados, e em novembro Beijing afirmou que suas forças estão “em alerta máximo para proteger a soberania nacional, a segurança e os interesses marítimos.” Considerando as alianças militares envolvidas, é impossível prever os desdobramentos de um eventual descuido de qualquer dos lados, sobretudo um que venha a gerar vítimas.

Para Manila, o apoio de seu maior aliado gera um mínimo de conforto. Como o presidente Joe Biden deixou claro em dezembro, “o compromisso de defesa dos EUA com as Filipinas é inflexível”, e seu país está “ombro a ombro com as Filipinas na defesa dos seus direitos soberanos e jurisdição na sua zona econômica exclusiva.”

Navio da Marinha das Filipinas, em outubro de 2019 (Foto: Flickr)
Rússia x Moldávia

O desacerto entre Rússia e Moldávia está ligado ao separatismo da região da Transnístria, que se declarou independente após uma breve disputa em 1992, embora não seja assim reconhecida pela comunidade internacional. Então, um acordo de cessar-fogo determinou a presença de tropas russas de manutenção da paz, com um contingente militar de 1,5 mil tropas.

Durante o período de conflito, com o aliado ao Kremlin Igor Dodon ainda no poder na Moldávia, a Rússia apoiou a antiga nação soviética contra os separatistas. Porém, após a derrota dele no pleito que elegeu a presidente Maia Sandu em dezembro de 2020, as relações entre Moscou e Chisinau se desgastaram, gerando o temor de uma invasão russa à ex-república soviética.

A presidente pró-Ocidente pede que Moscou se retire da região separatista no leste do país, alegando que as forças russas nunca tiveram permissão para entrar na Transnístria. “Somos um país independente que não quer que as tropas estrangeiras permaneçam em seu território”, disse Sandu à época da posse.

Para a presidente, as tropas russas devem ser substituídas por monitores civis orquestrados pela OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa). “Esta não é apenas uma declaração, mas uma necessidade”, afirmou. “Vamos trabalhar com a Rússia pelo tempo que for necessário para resolver a questão da remoção de armas e retirada de tropas.“

A solução diplomática, porém, não está no horizonte. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Moldávia vem aumentando os gastos militares, temerosa de ter o mesmo destino de Kiev. O Parlamento aprovou uma medida que oficialmente amplia em quase 70% o orçamento de Defesa, dinheiro que será investido sobretudo em sistemas antiaéreos. E, em dezembro, as Forças Armadas realizaram um exercício militar nas proximidades da região separatista.

De acordo com Sandu, que se manifestou pelo Facebook por conta das manobras militares, hoje há duas grandes ameaças à segurança nacional da Moldávia. Uma delas é a corrupção. A outra, a “política agressiva da Federação Russa contra o nosso país e contra a paz em geral.”

Venezuela x Guiana

No início de dezembro, os venezuelanos votaram em um referendo para apoiar a reivindicação de Caracas sobre a região rica em petróleo de Essequibo, que compreende a maior parte do território da Guiana: são 160 mil quilômetros quadrados ao redor do rio de mesmo nome, uma área de floresta tropical.

A Guiana vê a atual medida como uma ameaça à sua existência, no que ganhou o apoio de países como os EUA e o Reino Unido. A Corte Internacional de Justiça (CIJ) já decidiu que a Venezuela deve se abster de ações que mudem a situação atual no território disputado, e um julgamento está planejado para o ano que vem. Porém,Caracas não reconhece a jurisdição do tribunal sobre a questão.

A Guiana teme que o referendo, no qual a população aprovou a anexação, seja um pretexto para a apropriação de terras. Paul Reichler, advogado que representa o país, afirmou ao CIJ: “A decisão coletiva aqui solicitada envolve nada menos do que a anexação do território em disputa neste caso. Este é um exemplo clássico de anexação.”

O que gera apreensão global é o fato de a crise geopolítica envolver alianças poderosas e o interesse pelo petróleo de Essequibo. Em dezembro, como prova de seu apoio à Guiana, o Reino Unido anunciou o envio de um navio de guerra à costa do país, como relatou a rede BBC. Caracas, por sua vez, tem China e Rússia a seu lado, embora ambas optem, ao menos por enquanto, por um discurso em favor da diplomacia e de uma solução pacífica para o problema.

África

O principal foco de tensão no continente africano já esteve relacionado ao golpe de Estado no Níger, em 16 de julho. A tomada de poder incomodou a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que passou a ameaçar uma intervenção armada. Já Mali e Burkina Faso, que também passaram por golpes recentes e são governados por juntas militares, manifestaram apoio aos golpistas.

A tensão atingia níveis globais porque um choque entre a CEDEAO e os governos militares africanos imediatamente arrastaria para o confronto a Rússia, que através do Wagner Group firmou parceiras com Mali e Burkina Faso no setor de segurança. Porém, o bloco conseguiu contornar a crise com diplomacia, e uma solução pacífica foi encaminhada em dezembro.

A África, entretanto, é um barril de pólvora. A crise geopolítica mais quente do momento no continente ocorre no Sudão, palco de um conflito civil entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF), um grupo paramilitar fortemente armado e bem treinado.

Em dezembro, o Exército se manifestou sobre a alegada interferência dos Emirados Árabes Unidos (EAU) no conflito, sob a acusação de que o país teria enviado armas às RSF, por rotas no Chade, em Uganda e na República Centro-Africana, com o auxílio do Wagner Group.

A denúncia, claro, levou a uma reação dos Estados Unidos, onde parlamentares democratas pediram aos EAU que encerrem o apoio, segundo o portal de notícias Sudan Tribune.

 A REFRÊNCIA 



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